O debate sobre o convívio da bicicleta com carros, ônibus, motos e pedestres tem se tornado cada vez mais frequente, principalmente depois das últimas ocorrências que envolveram atropelamento de ciclistas em diferentes regiões do DF.
Além de ser uma prática saudável, as pessoas estão compreendendo que a bicicleta é uma forma alternativa ao carro para se deslocar pela cidade, às vezes por escolha e muitas vezes por necessidade, e que pode ser combinada com outros meios de transporte, como metrô e ônibus. Por isso, a bicicleta é um modo de transporte inclusivo e sustentável.
Esta é uma tendência global, e sem volta. Ainda bem. Mais bicicletas, menos carros. Menos carros, mais cidade para as pessoas. Menos CO², mais ar puro.
A cidade é de todas e todos. Na teoria, todo mundo sabe disso, mas colocar em prática a convivência pacífica com as diferenças exige solidariedade, atenção, respeito ao outro e à lei.
O Código de Trânsito existe para proteger a vida, e o maior protege a vida do menor: o motorista – dos diferentes meios de transporte – protege a vida do ciclista, e todo mundo protege a vida do pedestre.
Não foi o que aconteceu recentemente em Águas Claras, onde, no dia 5/4/2017, uma ciclista foi atropelada na ciclofaixa. A ciclofaixa da Av. das Araucárias de Águas Claras, implantada em março de 2016 já se tornou um marco nas conquistas pela mobilidade urbana do DF.
A Rodas da Paz viu de perto a mobilização da comunidade, se engajou na causa e continua apoiando firmemente a iniciativa. Além da mobilização, a própria ciclofaixa é exemplar: tem sinalização vertical e horizontal que garante a preferência do ciclista nos cruzamentos, conforme assegura o Código de Trânsito no seu artigo 214. Os motoristas que não dão preferência à bicicleta estão cometendo uma infração gravíssima, e tornam o trânsito mais hostil e violento.
É preciso que a lei seja respeitada para que o vermelho no chão da ciclofaixa seja tinta, e não sinal da violência no trânsito.
O que aconteceu em Águas Claras não é motivo para culpar a ciclofaixa, muito menos a vítima.
Neste caso, o motorista fez a conversão à esquerda, a partir da faixa do meio, sem atenção e sem dar preferência à ciclista. A ciclofaixa e a ciclista não podem ser responsabilizadas pelo gesto imprudente do motorista. O que ele fez só justifica duas coisas: cobrar a responsabilidade pela sua atitude e educá-lo para o trânsito.
Nem a ciclista, nem a ciclofaixa têm responsabilidade pela imprudência do motorista.
Diante da violência no trânsito, precisamos fortalecer as conquistas na política pública pela mobilidade urbana, e não enfraquecê-las.
Se alguém utilizar indevidamente o cinto de segurança, isso não é justificativa para bani-lo como item obrigatório.
Quando uma pessoa é atropelada na faixa de pedestre, apagar a faixa não evita que a situação se repita em outro lugar.
Se pessoas estão sendo vítimas da violência no trânsito porque se deslocam de bicicleta, é preciso encontrar formas de garantir sua segurança, às vezes por meio de ciclovias e ciclofaixas, e não tirá-las das ruas.
Cada pequeno gesto conta para trazer mais segurança, como colocar as crianças na cadeirinha. De acordo com as estatísticas recentes, o uso da cadeirinha para crianças no banco de trás reduziu em 23% as mortes de crianças no trânsito no Brasil.
Na contagem de ciclistas feita pelas Rodas da Paz em setembro de 2016, um semestre após a implantação da primeira ciclofaixa de Águas Claras, constatou-se que o uso de bicicleta havia crescido 40% em relação à contagem anterior, de outubro de 2015, mostrando como dar incentivos à mobilidade ativa traz resultados positivos.