Lago Norte, o potencial de ser um bairro modelo em mobilidade ativa

O Lago Norte, Região Administrativa do Distrito Federal, é conhecido pela grande qualidade de vida oferecida para seus moradores, pela urbanização generosa e pelo bom padrão de construção das residências. Recentemente, o bairro recebeu melhorias de segurança viária, como a volta para o limite de velocidade de 60 km/h e a revitalização de sua ciclofaixa, que ganhou pintura, sinalização e tachões. A ação teve início em 19 de novembro de 2017, o Dia Global em Memória das Vítimas no Trânsito.

Alguns moradores estão receosos com as mudanças e tentamos aqui tirar as dúvidas mais comuns sobre o movimento de humanização do trânsito no Lago Norte.

1) Faz mesmo diferença para a segurança andar a 60km/h ou andar a 70km/h?
Sim. De 60 km/h para 70 km/h aumenta-se em 17% a velocidade, o que corresponde a um choque 36% mais grave. Além disso, mesmo quando a velocidade alta não é o fator principal para o acidente, a baixa velocidade pode impedir que a colisão venha a ocorrer. Com menos velocidade o campo de visão periférica do motorista aumenta consideravelmente, o que costuma ser decisivo para evitar uma colisão. No trânsito quem corre mais enxerga menos. 

De acordo com a velocidade em curso, varia também a distância necessária para frenagem total de carro. Quanto mais rápido estiver o carro, mais tempo leva para conseguir freá-lo totalmente. Para frear um carro a 60 km/h, são percorridos 36 metros até a parada completa. Já a 70 km/h, o carro para apenas após percorrer 50 metros.

Já em termos de tempo ganho ou perda com a velocidade, a diferença é pequena. Em um percurso de cerca de 10 km, distância para atravessar todo o Lago Norte, andar a 60km/h ou a 70 km/h significa 1 minuto e 40 segundos de diferença. A pressa realmente não compensa o risco de uma fatalidade.

2) Por que não fazem ciclovia no canteiro central do Lago Norte?
Embora pareça uma solução mais fácil, pois a bicicleta andaria numa área que está aparentemente ociosa e não “atrapalharia o trânsito”, nem sempre ciclovia no canteiro central é a melhor opção. No caso do Lago Norte, principalmente por não levar aos destinos finais, que são os conjuntos habitacionais. Com uma ciclovia no canteiro central, haveria a necessidade de semáforo a cada entrada de conjunto para a pessoa sair da ciclovia e conseguir chegar ao seu destino final. Já com uma ciclofaixa, o ciclista já tem acesso diretamente às entradas dos conjuntos, sem necessidade de instalação de novas travessias. Além disso, por questão de segurança, muitas vezes o uso de bicicleta em ciclovias de canteiro central é prejudicado por assaltos, pouca iluminação pública, como ocorreu recentemente na ciclovia do Eixo Monumental.

3) O trânsito não fica mais perigoso sem faixa de desaceleração?
Ao revitalizar a ciclofaixa já existente no Lago Norte, o limite de velocidade máxima na via foi reduzido de 70km/h para 60km/h. Andando até o limite permitido na via, a desaceleração para entrar num conjunto pode ser feita na própria faixa de rolamento, sem que isso prejudique a fluidez do trânsito. A EPPN é uma via com duas faixas de rolamento, sendo que a desaceleração pode ocorrer na faixa da direita sem prejuízo para o trânsito. Para facilitar o momento da curva, o DER aumentou posteriormente a distância entre os tachões na entrada dos conjuntos, possibilitando o ângulo da virada de forma menos brusca.

4) E o risco dos tachões da ciclovia estourarem meus pneus?
As vias do Lago Norte, assim como as demais vias de Brasília, estão entre as mais largas do país. As faixas de rolamento tem padrão rodoviário e variam entre 3 metros a 3,5m de largura, o que é um espaço para condução e manobra generoso para vias urbanas. Um veículo como o Hyundai Santa Fé, por exemplo, tem 1,9m de largura, e um Toyota Corolla 1,8m. Com pistas largas assim, o risco de um motorista atento passar por cima dos tachões é praticamente inexistente. Os tachões existem para ser um obstáculo à má direção, protegendo de invasões o espaço destinado à segurança de quem está de bicicleta. A Avenida 23 de Maio em São Paulo, por exemplo, tem largura de 2,6m desde 2005.

5) Mas reduzir da velocidade diminui mesmo os acidentes?
A redução dos limites de velocidade nas vias urbanas é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), fundamentada nos estudos mais atuais sobre trânsito e na experiência concreta de cidades como São Paulo, Curitiba e Fortaleza.
Em um atropelamento a 64km/h, 85% dos pedestres atingidos morrem e nenhum sai ileso. A 32km/h, 5% morrem e 30% sobrevivem ilesos. Além do impacto da velocidade no momento da colisão/atropelamento, há que se considerar que quanto maior a velocidade, menor o tempo de reação frente a um imprevisto o motorista tem. O vídeo a seguir mostra como uma velocidade menor é a diferença entre sobreviver e morrer em um atropelamento.


Para mais informações sobre a redução dos limites máximos de velocidade, veja essas perguntas e respostas aqui.

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