Mais uma doação de bicicletas para pessoas refugiadas

doe_refugiados

Há um ditado popular que diz assim: farinha pouca, meu pirão primeiro. Quem enfrenta as dificuldades de sobrevivência sob uma perspectiva mais humana, ao contrário, escolhe dividir.

No domingo (11/4), aconteceu a segunda doação de bicicletas da Rodas da Paz a grupos de pessoas refugiadas que foram acolhidas no Brasil. A primeira doação aconteceu em 2012. Escolhemos dividir com essas pessoas as bicicletas do projeto Doe Bicicleta. A entrega aconteceu no Parque da Cidade, como parte das atividades do Dia Mundial de Boas Ações.

A doação só foi possível devido ao trabalho de muitos voluntários e porque atuaram juntas as instituições ACNUR, agência da ONU para refugiados, o Instituto Migrações e Direitos Humanos, a Embaixada da Austrália, o Grupo Escoteiro Moraes Antas e a Rodas da Paz. Mais uma vez ficou evidente que juntos podemos realizar mais.

Entre os projetos e ações da Rodas da Paz, há o Doe Bicicleta, que existe desde a fundação da ONG.

De lá pra cá, mais de já foram doadas mais de 4 mil bicicletas para diversas comunidades. Somente nos dois primeiros meses desse ano, mais de 100 doações foram feitas. Entre as comunidades beneficiadas estão a Cidade Estrutural e o Gama.

As bicicletas doadas geralmente chegam até a Rodas da Paz sem condições de uso. Muitas vezes são doadas apenas partes das bicicletas.

São doações realizadas individualmente, ou por meio de condomínios e associações, entre outros. Os moradores se mobilizam e doam as bikes esquecidas sob teias de aranha. Crianças crescem e suas bicicletas menores ficam paradas.

Consertamos as bicicletas coletadas, para que levem alegria, saúde e mobilidade para crianças e jovens, principalmente, de comunidades menos favorecidas.

Saiba mais sobre o Doe Bicicleta e contribua você também. O trabalho de coleta é realizado por meio do apoio dos voluntários e voluntárias da Rodas da Paz. Quem sabe você não doa ou nos ajuda na próxima atividade?

O gesto coletivo humanitário da doação de bicicletas às pessoas refugiadas repercutiu positivamente na imprensa e nas redes sociais, com destaque para as notícias publicadas pelos jornais Rede Brasil Atual, Correio Braziliense, EBC e Fotos Públicas.

As doações também foram recebidas com alegria pelas crianças refugiadas, as mais afetadas pelos conflitos internacionais, e por seus familiares, que agora poderão se deslocar até o trabalho. A maioria dos refugiados domina outro idioma, como o inglês, e hoje realiza no Brasil atividades muito diferentes e com menor remuneração se comparadas com aquelas que exerciam em seu país.

No entanto, identificamos vários comentários de leitores desinformados ou que partilham de valores e práticas com os quais não nos identificamos. Mais do que isso: são posturas que repudiamos, como xenofobia, racismo e discriminação.

Muitos internautas, em alguns casos utilizando perfis falsos, ocuparam o espaço aberto pelos jornais para o diálogo e incitaram a violência contra as pessoas beneficiadas, para agredir a ONG e parceiros e questionar a idoneidade do projeto, demonstrando falta de conhecimento e má fé.

Compreendemos a falta de informação. Muitos sequer leram a notícia, apesar dos comentários inflamados. O que não compreendemos é a atitude violenta, contra a qual tanto lutamos em nossa prática cotidiana.

A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o ACNUR, determina que refugiado é uma pessoa que “temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”.

Os padrões da migração se tornaram cada vez mais complexos nos tempos modernos, explica o ACNUR, envolvendo não apenas refugiados, mas também milhões de migrantes econômicos. Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem da mesma forma com frequência, são fundamentalmente distintos, e por esta razão são tratados de maneira muito diferente perante o direito internacional moderno.

Migrantes, especialmente migrantes econômicos, decidem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mesmos e para suas famílias. Já os refugiados dependem da abrigo em outro país para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade. Não possuem proteção de seu próprio Estado. Muitas vezes é seu próprio governo que ameaça persegui-los.

Com mais essa doação do projeto Doe Bicicleta, a Rodas da Paz firma o seu compromisso com a promoção do acesso à mobilidade urbana sustentável como um direito de todas as pessoas. Um direito humano – e humanos somos todos nós, e precisamos aprender a conviver pacificamente no mesmo planeta. Refugiados ou não. Ciclistas ou não.