Usuários de bicicleta reivindicam a construção de faixas exclusivas nas vias que ligam as regiões administrativas.
Às 6h da manhã, diariamente, a rotina do servidor público Antonio Luis da Silva Santos (na foto, de capacete branco), 45 anos, começa de uma forma diferente da que a maioria dos habitantes do Distrito Federal – e do restante do país – está acostumada. Morador de Águas Claras, região administrativa do DF, ele utiliza a bicicleta para ir de casa à estação do metrô. Carrega o próprio meio de transporte no último vagão do trem e chega ao trabalho da mesma forma que iniciou o dia, pedalando.
Antônio atua no Ministério do Transporte, localizado no Plano Piloto. Junto com colegas do mesmo prédio e do Ministério das Comunicações, forma um grupo de ciclistas que decidiu “encarar” as ruas de uma forma mais saudável e sustentável, longe dos carros, ônibus, buzinas, estacionamentos lotados e engarrafamentos que estressam a maioria da população. Sob duas rodas, eles tentam fugir do caos do trânsito na capital. No dia 19 de agosto, comemoraram o Dia do Ciclista.
“Quando andamos de bicicleta e nos exercitamos, chegamos ao trabalho com mais disposição. É uma sensação diferente de estar em um carro, preso em um engarrafamento”, conta Antônio. Adepto da pratica de pedalar há sete anos, ele afirma que esta mudança de hábito lhe permitiu conhecer melhor a cidade e as pessoas. “Você se preocupa mais com questões como meio ambiente e sinalização”, diz à Agência CNT de Notícias.
Apesar de reconhecer que o número de faixas exclusivas para bicicletas tem aumentado na região do Distrito Federal – a meta, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), é passar dos atuais 240 km de ciclovias e ciclofaixas para 600 km em 2014 -, Antônio espera que as áreas não fiquem concentradas no centro das cidades. “Deve haver mais ciclovias para interligar as regiões administrativas. Não existe uma política neste sentido”, afirma.
Esta também é uma reivindicação da ONG Rodas da Paz. Segundo a diretora de Relações Institucionais da entidade, Renata Florentino, a maior parte das ciclovias está sendo construída em vias de baixa velocidade, onde quase não há acidentes com ciclistas. A instituição foi criada em 2003 para defender iniciativas por um trânsito mais seguro no DF, integrar os usuários de bicicleta e incentivar as discussões sobre políticas públicas sobre mobilidade urbana.
Renata explica que o Governo do Distrito Federal (GDF) deveria ter um olhar mais integrador sobre a cidade, ao analisar a questão das ciclovias e decidir o que é prioridade para os cidadãos. “É preciso fornecer mais qualidade de deslocamento das pessoas até o ponto de ônibus ou às estações do metrô, faltam locais para guardar a bicicleta com segurança. A diversidade deve ser traduzida nos meios de transporte”, observa.
Conselho de Mobilidade e Acessibilidade
Para firmar a bicicleta como meio de transporte na cidade, o Rodas da Paz cobra a inclusão da sociedade nas discussões, por meio da criação de um Conselho de Mobilidade e Acessibilidade. “Quanto mais a população é envolvida nas discussões, maiores as chances de o governo executar políticas eficientes, não fragmentadas. Brasília não pode virar um grande estacionamento de carros. Estamos construindo áreas mortas”, avalia Renata.
Ouvir a opinião dos cidadãos, acredita a diretora da ONG, pode ser uma prática adotada pelo GDF e que pode contribuir para um melhor aproveitamento dos espaços livres, com a construção de praças e escolas. “Esta diversidade de uso do território deve estar nas cidades. A bicicleta é fundamental neste cenário de compartilhamento, ocupa muito menos espaço, não ‘mata’ uma área pública e não polui o meio ambiente. As pessoas interagem mais com a cidade”, acrescenta Renata.
O Conselho também seria importante para incentivar uma campanha educativa destinada a mudar o comportamento de ciclistas e motoristas. “O respeito à faixa de pedestre é uma lei, por exemplo, mas não podemos contar apenas com a legislação. É preciso uma ação de conscientização. Não adianta apenas criar normas”, pontua a representante do Rodas da Paz.
Antônio Luis, citado no início da reportagem, também aposta na importância de uma campanha de conscientização. “A bicicleta é um meio de transporte previsto no Código de Trânsito Brasileiro, tem prioridade em relação aos outros veículos automotores. Falta um pouco de cuidado dos motoristas com os ciclistas e pedestres. Uma campanha educativa poderia resolver”, avalia.
Casado, pai de dois filhos, o servidor público revela que só utiliza o carro em casos de extrema necessidade. Mesmo com a rotina um pouco alterada – ele acorda mais cedo para embarcar em um vagão do metrô mais vazio, pois precisa carregar a bicicleta – ele garante que o hábito vale a pena. “O trânsito está cada vez mais caótico, complicado. Para quem tem disposição, é uma oportunidade para ajudar o meio ambiente e ter mais saúde”, finaliza.
Rosalvo Streit
Fonte: Agência CNT de Notícias