A matéria do DF TV 1ª Edição desta terça-feira, 8 de julho, “Ciclistas não respeitam a lei de trânsito” abordou de maneira inadequada o tema da morte de ciclistas nas vias do DF, com empenho contrário ao habitual esforço da emissora pela conscientização e educação para a convivência pacífica no trânsito.
O enfoque da matéria isenta os motoristas pelas fatalidades causadas na condução de seus veículos, sem abordar os fatores do excesso de velocidade ou consumo de bebida alcoólica, que geralmente estão presentes nas ocorrências de trânsito.
Existem atitudes inadequadas por parte de ciclistas. Mas a matéria é pouco razoável quando coloca, sob a mesma lente, toda atitude “ilegal” de ciclistas perante o Código de Trânsito como ameaça à segurança no trânsito. Ora, como acertadamente coloca o professor Paulo César na sua fala, é preciso entender o anseio de cada condutor, no caso, o ciclista, quando se trata do seu deslocamento.
Nesse sentido, se um ciclista está utilizando um trecho no sentido oposto ao do fluxo, pode ser um claro indicativo de que o traçado da via não atende ao princípio lógico de quem se utiliza unicamente da sua própria energia e força para propulsão: a do menor gasto energético e menor distância. Infelizmente, a reportagem, ao invés de explorar essa questão, preferiu ridicularizar uma ciclista que seguia no contrafluxo da via.
Em relação ao direito de circulação de bicicletas nas ruas, faltou um esforço de checagem de informação. A reportagem é muito convincente ao transmitir a ideia de que ciclistas devem circular em ciclovias e que, fora delas, estão em desacordo com o CTB, o que não é verdade. O artigo 58 do CTB assegura o direito de circulação de bicicletas nas ruas, mesmo em locais onde existem ciclovias mas não é possível a utilização desta estrutura, como por exemplo por descontinuidade, falta de iluminação pública ou realização de treino esportivo.
Não seria necessário o ciclista que trafegava na via L4 dar explicações à reportagem porque estava ali e não na ciclovia. Simplesmente porque a lei o autoriza a estar ali. Assim, a matéria poderia esclarecer a população sobre esse direito do ciclista e destacar o dever dos demais condutores em zelar pela sua segurança.
O DF conta com cerca de 400 km de ciclovias (descontínuas), mas possui mais de 11mil km de vias pavimentadas (e contínuas), portanto é evidente a necessidade de se compartilhar o espaço viário entre ciclistas e os modais motorizados com segurança, para assegurar o deslocamento das pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte para acessar locais de trabalho, estudo ou lazer.
Uma cidade mais humana se faz com gestos de respeito pelo outro. Queremos acreditar que esta também é a visão deste canal de comunicação, motivo pelo qual solicitamos espaço para a Rodas da Paz prestar esclarecimentos ao público sobre a questão, ou que o DFTV ceda um repórter e equipe para se deslocar de bicicleta e abordar essas questões a partir de sua experiência no trânsito.