Foi realizada, dia 15 de setembro, a sexta edição do Desafio Intermodal de Brasília. O Desafio ocorre em várias cidades do Brasil, sempre em uma data próxima ao dia mundial sem carro e se propõe a avaliar a eficiência de diversos meios de transporte num trajeto tradicional da cidade. São três os critérios utilizados para a avaliação: tempo gasto para se chegar ao destino final, custo monetário e emissão de poluentes. Por isso, não basta chegar em primeiro lugar: o impacto ambiental e o peso do transporte no orçamento no final do mês também contam.
No total, 23 voluntários saíram no mesmo horário (7:37:00) e local (QE 07 do Guará I) até o Museu Nacional, num percurso que variou de 13 a 16kms, de acordo com o trajeto escolhido. Foram 13 modalidades de deslocamento avaliadas, incluindo deslocamentos mistos: Moto, Carro, Taxi, Ônibus, Metrô, Bicicleta Mountain Bike, Bicicleta Speed, Bicicleta Fixa, Bicicleta Urbana, Bicicleta Urbana + Metrô, Bicicleta Dobrável + Ônibus, Bicicleta Tandem, deslocamento a pé (corrida, incluindo um corredor descalço).
Observações
Levando em conta fatores como a emissão de poluentes por passageiro, a emissão de ruídos e o custo financeiro da viagem, pode-se verificar que a liderança da bicicleta como meio mais eficiente vai muito além do tempo de deslocamento, tendo diversos benefícios coletivos. Apesar de ter chegado em primeiro, a Moto tem maior custo, emite mais poluentes e gera maior risco ao usuário.
Apesar de praticamente não haver estrutura cicloviária no trajeto e de grande parte dos motoristas não conhecer as regras em relação à bicicleta como meio de transporte, esta se confirma novamente como uma alternativa eficiente e viável. Nesse sentido, o uso da bicicleta deveria ser incentivado e estimulado por meio de políticas públicas de ampla dimensão.
Embora tenham sido mais lentos (em especial o ônibus, que chegou apenas pouco antes de quem foi a pé), o ônibus e o metrô também ganham do carro e do táxi nos critérios de sustentabilidade ambiental, custo individual e custo social, já que são mais baratos e transportam muito mais passageiros, ajudando também a evitar congestionamentos. Particularmente, o ônibus teve desempenho bastante insatisfatório em relação ao critério de tempo. Este foi o primeiro intermodal feito após o edital de licitação de troca dos ônibus.
Confirma-se, pelos resultados do Desafio Intermodal, que há uma inversão de prioridades no investimento dos recursos públicos, com maiores gastos nos meios menos eficientes.
O relatório final com as análises comparativas com anos anteriores, avaliações dos participantes sobre praticidade, conforto e segurança do trajeto e imagens do evento está disponível aqui.
Olá Alison,
Suas questões são amplas e pertinentes. Vamos tentar pontuar algumas delas:
1- Sim, há muito que se possa fazer. Por exemplo, a Rodas da Paz protocolou denúncia no Ministério Público do DF devido a muitos desses problemas, incluindo não cumprimento da legislação. Veja aqui: https://pedale.me/rodas-da-paz-protocola-denuncia-ao-ministerio-publico-do-df/
2- Além do CTB, vale também conhecer as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, lei que orienta a priorização dos gastos para os meios mais sustentáveis, começando pelos pedestres e ciclistas;
3- Estudos indicam que o custo marginal da bicicleta não apenas é menor do que do carro, mas é negativo. Ou seja, andar de bicicleta gera redução de custos públicos. Por isso, alguns países começaram a desenvolver políticas para literalmente pagar os cidadãos para andarem mais de bicicleta! =)
4- Não temos notícias de um estudo sobre a elasticidade preço da demanda por carro ou da elasticidade cruzada com a demanda bicicleta, mas seria algo interessantíssimo (mas há estudos do Ipea sobre isso com relação ao uso do transporte público). Quem fizer isso deve lembrar que a bicicleta e o carro não são bens substitutos perfeitos, que posse e uso do veículo são coisas distintas e que há algumas variáveis de contexto que podem ser controladas. Se tiver notícias de algo nesse sentido, nos avise!
Obrigado pelo contato.
Gostei muito da análise. Gostaria de saber se não há nenhum instrumento legal que impeça gastos ineficientes uma vez que assim provados. A ver que, medidas de viabilidade econômica, à primeira vista, corroborariam para essa prova. Não conheço pesquisas nem dados nesse assunto, mas pra mim, está muito claro que o custo marginal a terceiros provocado por um carro é bem superior ao de uma bicicleta. E que o problema de tráfego não se soluciona com obras de ampliação de vias. É preciso dar pelo menos alternativa às pessoas, só o código de trânsito não garante a segurança dos ciclistas. Talvez trabalhar uma análise em torno da elasticidade preço da demanda por carro ou talvez a cruzada com a demanda por bicicleta.