VISÃO DO CORREIO »Pedalar sem risco é direito do cidadão

Editorial do Correio Brasiliense
OPINIÃO
VISÃO DO CORREIO »Pedalar sem risco é direito do cidadão
Publicação: 28/07/2015
A imagem impressiona. No domingo ensolarado, milhares de ciclistas pedalam pela Esplanada dos Ministérios rumo à Ponte JK. Entre eles, gerações da mesma família. Avós, pais, filhos e netos participaram do 13º Passeio Ciclístico Rodas da Paz movidos por sentimento de cidadania. Querem a cidade com trânsito civilizado e democrático. A mobilidade urbana, vale lembrar, é uma das questões mais desafiadoras e urgentes impostas aos governantes.
Não se devem ao acaso as reivindicações dos manifestantes que ocuparam as ruas de norte a sul do país em junho de 2013. Entre as exigências de melhor educação, melhor saúde, melhor governo, melhor Congresso, sobressaía o direito de ir e vir com qualidade, segurança e diversidade. Nas passeatas de 2015, a reivindicação permanece. E, a depender do ritmo observado na capital da República, permanecerá sabe-se lá por quanto tempo.
Editada em 2005, a Lei Distrital n° 3.639 aguarda regulamentação. Ela prevê a construção de ciclovias nas rodovias que cortam o Distrito Federal, vitais para a ligação do Plano Piloto e o entorno. Mas, 10 anos depois, comprova-se a distância abissal entre as palavras e os atos. O papel aceita tudo. No momento do agir, de concretizar o disposto no texto, porém, conjuga-se o verbo procrastinar. Deixa-se para amanhã o que se pode fazer hoje. Se possível, para depois de amanhã. Com sorte, para o Dia de São Nunca.
A negligência tem preço. São vidas que se perdem. Produtividade que se reduz. Saúde que se vai no congestionamento de trânsito, nas longas filas, nos ônibus lotados, na falta de compromisso com a frequência e a qualidade. A violência do asfalto matou nos cinco primeiros meses de 2015 mais do que nos 12 de 2014. Só nas vias urbanas, excluídas as distritais e federais, o DF assassinou 10 ciclistas até maio. Em todo o ano passado, foram nove.
É inaceitável o atraso na implantação de sistema de transporte democrático no Distrito Federal. Nele devem conviver com harmonia as diferentes formas de mobilidade. Bicicletas, motos, carros, trens, metrôs, ônibus precisam se interligar e circular com segurança a fim de atender às diferentes necessidades da população. O mundo mostrou que não se trata de sonho. Ao contrário. Amsterdã, Viena, Londres, Nova York servem de prova de que grandes centros podem criar sistemas includentes, em que se abre a possibilidade de escolha para o cidadão.
Esse é o recado que os milhares de brasilienses que ocuparam as ruas no domingo deram ao governo. Embora nenhuma autoridade governamental estivesse presente à manifestação, impõe-se ouvir a mensagem. A Lei n° 3.639 tem de sair do papel. A demonstração pública da adesão da presidente da República ao ciclismo pode servir de inspiração e desafio. Se Dilma Rousseff decidir ir do Palácio da Alvorada ao Palácio do Planalto de bicicleta, como morador comum da capital, com certeza correrá sério risco de não chegar ao destino. Os 4 mil metros que separam os dois palácios podem significar a distância que separa a vida da morte.

3 comments on “VISÃO DO CORREIO »Pedalar sem risco é direito do cidadão

  1. Rodas da Paz disse:

    Olá, Paulo agradecemos pelos parabéns e muito obrigada pelas sugestões! Estamos juntos!

  2. José ronaldo santana de almeida disse:

    Esse passeio foi o máximo, recomendo a todos.
    E peço a todos os motoristas que troquem o
    carro por uma bike para ter mais vida e saude
    um grande abraço a todos… Fui.

  3. Paulo Pecê disse:

    Olá todos,
    Vir apenas para parabenizar o autor do texto, e óbvio, queria sugerir uma pauta, para uma matéria que tratasse das dificuldades enfrentadas por ciclo turistas, que insistem em correr o Brasil pedalando!
    Eu vivi esses problemas em julho, quando empreendi minha primeira viagem com Maitê! Me refiro aos ônibus!!!! Nenhuma empresa trata ciclista com respeito e nem se cumpre o que está na lei. E a omissão da ANTT é absurdo!
    Cheguei a rodoviária, passagem comprada e tudo só que na hora do embarque o O Dono do Ônibus o Senhor Motorista disse que não embarcaria a Maitê e Deu as costas, ligou o veículo acelerou e foi – se! !! E eu, claro, na estação com cara de sujeito abobalhado, às 02:15 da madrugada numa cidade do Tocantins chamada Paraíso!!!
    Bom, na rodoviária de Brasília também aconteceu…
    na de Palmas também, na de Açailandia/MA também….
    Bom, desejar a vcs um bom dia
    Abs
    Paulo Pecê
    @nopedal

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